21 de ago. de 2007

Noite na USP

Hoje a noite, quando a aula acabou,
saí do prédio das aulas e cheguei no
ponto do circular da faculdade.
Com a respiração alterada, perguntei
para duas moças, que torci para que
estivessem ali já a alguns minutos:
_ O cirular 1 já passou?
_ Sim, acabou de passar!
Olhei para o outro lado da rua e vi o
circular 2, atravessei a correndo, e
ainda bem que as luzes verdes dos
pedestres estavam do meu lado
naquele momento.
Entrei no ônibus, eu e mais duas
pessoas. Sentei num banco da parte
da frente, nem tão para frente, nem
tão atrás, mas num movimento
aparentemente inconsciente sentei
no banco mais alto, o que costumo fazer.
Me lembra a infância, de quando a
linha da janela não atrapalhava minha
visão. Hoje, ou me encolho e vejo abaixo
da linha, ou estico uns milimetros o
pescoço e vejo acima. Nenhuma das
duas é satisfatória, mas é um lugar
agradável. Por que seria agradável?
Talvez uma pitadinha de masoquismo?
Não, não, pelo simples fato de que
sentada neste banco, sinto o ar que
entra da janela, batendo no meu rosto,
gelado ou nem tanto, me trazendo notícias
daquela nova noite. Como costumo
pegar o circular 1, que faz outro caminho
dentro da faculdade, não passava por entre
aquelas ruas de hoje a muito tempo...
O ônibus percorreu toda a raia da USP, e
como estava linda assim, na noite...
Tinha um tom perolado, um preto profundo,
que não deixava nenhuma luz entrar.
Apenas as luzes da Marginal Pinheiros
podiam alcançar suas águas, mesmo
assim apenas até o meio do rio.
As luzes eram alaranjadas, pairavam
poeticamente acima das aguas, brincando
de formas com as formas do rio, brincavam
de deformar com o vento que balançava as águas.
Lembro que quis muito ter uma câmera naquele
momento, para registrar de alguma forma,
não a forma, mas a visão, a poesia ali.
Por não ter a imagem, trago em palavras,
nestes símbolos que muito traduzem e muito
limitam, sentimentos de um momento da noite.