3 de ago. de 2009

desANIMAda

Hoje acordei sem alma.
Sensação de que dormir foi mais cansativo que manter meus olhos abertos.
A calma, muda, deitou-se no limite entre o recluso e o estouro.

Hoje acordei com frio.
Como se até mesmo o sangue estivesse com preguiça de percorrer todo o meu corpo.

Hoje as paredes caíram.
Cada passo que eu dava, algo desmoronava, sem choro, sem dor, sem sentir, esfarelaram feito suspiro, polvilho, amido.

Hoje acordei sem alma.
Olhos cinzas que não quiseram abrir, o Sol também se recusou, os dentes não formaram sorriso, a voz se calou.

Desânimo, sem alma, sem vida. Compreendo o que é, agora. É choro de criança sem som, gelatina sem cor, história sem começo.
Desânimo é uma virose, um vácuo, um silêncio.








Abre os olhos, mais uma manhã prematura, órfã, indesejada. Nenhum músculo, órgão ou pensamento quer acordar, pragueja em vão o que consegue processar.
As pernas escorregam da cama, os pés caem feito concreto no chão e levam o corpo para a água. A pele grita e os póros tentam inutilmente lutar empunhando os pêlos como espadas. Se rendem. Há água, há espuma, há água, há toalha, há frio.
Um sentimento de derrota é plantado e aos poucos cresce dentro do peito. Alimento, redenção.Ouve o som do líquido quente cair na caneca, a fumaça anuncia temperatura, a saliva dá boas vindas, concretiza-se o acordar.
Como máquinas, os olhos fitam os ponteiros e os ponteiros pressionam os pés, aceleram o coração. Aceito as correntes do tempo, pés e mãos carregam os grilhões. Durante o dia nem se sente, durante o dia se esquece a escravidão de segmentar o dia, de segmentar a vida, de segmentar as possibilidades. Se aceita, se defende, até mesmo se fabricam e disseminam as fatias do dia, as medidas, por favor, não perca a hora.
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