27 de dez. de 2010

Intimorato

Quando era ainda uma pequenina criança tinha a coragem de quem não tem nada a perder. Desbravaria os morros de areia, olharia debaixo de cada pedra, criaria fórmulas para que todos se tornassem eternamente felizes. Assim que tivesse altura para colocar os cotovelos sobre a mesa, estando confortavelmente sentada em sua cadeira, seria muito importante no Mundo.

Não tinha medo de nada, tinha a coragem de quem não tem nada a perder.

Os medos vieram de fora, foram chamados de: limite, ordem, obediência, respeito.
Os medos vieram de fora, foram chamados de: monstro, castigo, advertência, consequência.
Os medos entraram e se fizeram passar por inatos.
Agora tinha o que perder, quase tudo, mesmo não sabendo o que era tudo.

Na adolescência a noção de ter muito a perder permaneceu, mas ela notava que na sua idade era "radical" arriscar. Ela não era de arriscar, mas observava a forma curiosa como os monstros, os castigos, as advertências e as consquências tomavam forma quando alguma peripécia era descoberta.

Ela não sabe se os medos crescem, evoluem ou coisa assim. Acredita que eles se tornam proporcionais apenas.

Há quem diga que, em certos aspectos, sentir medo é bom. O medo aguçaria os sentidos, o deixaria alerta, com a mente em constante movimento. Mas, sempre que o medo se inicia, se espera um fim, se espera um desfecho. Não se quer medo para todos, para sempre, para os amigos. O medo de perder a convivência, o carinho e o amor de alguém perturba e deixa inquieto o coração.

Segurança, confiança, paz é o que todos buscamos. Na certeza é possível projetar futuro. Esse sentimento se quer para todos, para sempre, para os amigos. Este é um tipo de pedido que se faz ao cortar bolos de aniversário, na virada do ano, antes de fechar os olhos deitada na cama.

Há quem diga que medos são bobagens. Se fossem, não se ensinaria de geração para geração, não seria usado para controle, disciplina ou mesmo como prazer pelos os amantes de adrenalina. Medo é importante, mas é importante buscar o controle. Ele não pode ser mais forte que as boas lembranças, que a esperança, que a própria realidade. Afinal de contas, a essa altura, já deu pra entender que se você vê monstros de verdade é possível reagir de verdade.