10 de jul. de 2017

A pergunta Fundamental

Entro na caverna, de volta ao fundo da minha existência, sendo míope ao olhar para o meu passado. A minha pergunta de hoje e dos últimos anos tem sido: quando começou a depressão na minha vida? Das lembranças que tenho de adolescência, grande parte, se não for a maioria, ela estava lá, forte, firme, sentada ao meu lado, com os pés pregados e uma determinação inabalável.
Tenho que retornar para mais fundo, me sinto cansada, como se realmente meu corpo estivesse fazendo esta jornada, cada passo, dolorido, sentindo o chão úmido e frio, pedras desconfortáveis. Passo pela pior lembrança que tenho da minha vida, a raíz da erva-daninha que permanece no meu coração até hoje. Será que antes dela, já existia depressão em mim? Será que antes dela eu era um ser humano melhor, mais leve, brilhante e livre? Será? Eu realmente não consigo me lembrar.
Era e ainda é extremamente desagrável falar e ouvir pessoas falarem ou escreverem sobre isso. Eu sei. Todos sabemos. Não queremos olhar, saber, nos identificar. Mas, esta é uma doença tão cruel, como podemos nos deixar sofrer calados, sozinhos? Não sei como podemos, mas fazemos. E é o que mais fazemos.
Para aqueles que sofrem, ela arrasta, apaga a luz e te coloca em uma sala sozinho. Um lugar sem portas ou janelas. Quanto mais você sente falta de alguém, de alguma coisa, mais distante ela quer te deixar e você, muitas vezes, cansado, decide sentar e apenas respirar. Não é nada fácil cavar um buraco nessas paredes, procurar a luz mesmo estando sem esperanças, mesmo sem saber se você realmente quer sair. Querer e fazer... pesam.
Ela vai e ela volta, como as ondas, às vezes violenta, às vezes num refrão de uma música ou uma cena descrita em um livro. A qualquer hora. É uma luta sim, é uma luta a cada segundo. Luta para não se isolar, luta para pedir ajuda e deixar ser ajudada. Perco, muitas vezes, todas as vezes que não respondo aos meus amigos, que me isolo, que não vou. Ela chega de mãos dadas com a culpa e a solidão, sorrindo, e fazem um círculo em volta de mim. Cultivam abandono no chão.

Por que? Qual o motivo da existência dela, quando e como surgiu? Tem cura? Um dia vai parar?
São muitas as perguntas, mas a pergunta Fundamental que me faço hoje é: Como seria uma vida sem ela?